"Envelhecer é como a chuva no
Inverno. É inevitável. Por melhor que o tempo esteja, sabemos que a chuva
chegará. E, por mais novos que sejamos, sabemos que um dia seremos velhos,
mesmo que não pensemos muito sobre isso.
Mas, ao contrário da chuva,
envelhecer não é um fenómeno. É um processo. Um processo que acontece desde o
nascimento. Todos os dias nos tornamos mais velhos. É um processo de acumulação
de memórias e experiências, que farão de nós os velhos de amanhã. Envelhecer é
inevitável e cumulativo. E é perante esta fatalidade que surge um grande
paradoxo: todos nós queremos viver muitos anos, mas ninguém quer envelhecer.
O envelhecimento e o ser-se velho
estão, muitas vezes, associados a acontecimentos negativos de perda: de
mobilidade, de destreza física, de alguma autonomia, de amigos, de familiares
e, transversalmente a tudo isto, a noção de que o tempo também se está a
perder, a escassear. Assim como a acontecimentos negativos de ganhos: rugas,
cabelos brancos, solidão (consequência de algumas perdas), doenças e toda uma
panóplia de limitações que condicionam a liberdade de decisão. Contudo, é
também sinónimo de sabedoria, de alguma paciência adquirida com o passar dos
anos. É uma fase em que se tem muito a ensinar aos mais novos, em que, apesar
da contagem decrescente dos dias, existe tempo para se dedicar ao que realmente
se quer fazer, pelo simples prazer de fazê-lo. Uma fase de dedicação a si e aos
outros. Uma fase que acarreta consigo a preocupação de deixar um legado, seja
ele de que tipo for (filhos, netos, uma obra literária, uma herança...).
Acima de tudo é uma fase. Como qualquer
outra fase da vida de uma pessoa, tem os seus aspetos positivos e negativos, os
seus altos e baixos. E, tal como qualquer outra fase, depende da forma como a
encaramos. Hoje em dia, a velhice é vista de forma completamente diferente. Antes
ser velho era apenas tomar conta dos netos, ficar em casa a ver os programas da
tarde ou a novela, ir para o café com os amigos ou jogar às cartas no jardim.
Hoje, a par disto, temos Universidades Seniors
cheias de sede de conhecimento, provando que afinal “burro velho aprende
línguas” (e não só).
Envelhecer também é como o sol no
Verão. Inevitável. Acho que se pode dizer que, com o avançar do tempo, a
velhice ganhou o seu lugar ao sol. Consequência de um interesse crescente por
parte de várias ciências nesta fase de vida, proporcionando não só uma maior
longevidade, como uma maior qualidade de vida. Caminhamos na direção de um
envelhecimento mais ativo.
Todavia, reconhecer que se está a
envelhecer ou que se está velho não é tão simples assim. Não é fácil reconhecer
que se está a perder vitalidade, força ou energia. É um processo tão gradual
que, ao contrário dos que nos rodeiam, não damos conta da sua ocorrência. E,
quando a sociedade nos dá pistas sobre esta fase de vida, muitas vezes,
temos tendência para negá-la. Não devido ao preconceito, não por não
reconhecermos mudanças de ordem física, mas por não reconhecermos mudanças de
ordem psicológica. Sentimo-nos a mesma pessoa. A gravidade começa a exercer uma
força “maior” sobre o corpo, o cabelo ganha uma tonalidade diferente mas o
espírito jovem pode ser conservado, ainda que reconhecendo algumas limitações
físicas. “A idade é só um número”. É por isto que, por vezes, conhecemos velhos
muito jovens e jovens muito velhos. Estar velho é inevitável, mas ser velho é
opcional.
Talvez a minha perspetiva sobre o
envelhecimento e a velhice seja demasiado positiva. Com isto não quer dizer que
não reconheça aspetos negativos, porque efetivamente os há. Sendo que, na minha
opinião, as doenças são o derradeiro ponto fraco desta fase. Mas estas não são
exclusivas dos mais velhos. Assim como a morte não é exclusiva destes. Adoecer
ou morrer são apenas consequências diretas de estar vivo.
Envelhecer é como qualquer estação
do ano neste Mundo em constante mudança. Uma fase que, apesar de influenciada
pelos mais variados fatores, das mais variadas ordens, faz parte da vida de
qualquer ser vivo."
Lembrem-se:
Keep your heels, head and standards high,