Ontem quando cheguei à sala estava lá mais uma senhora ao pé da professora. Perguntei à Nicole se era outra professora deles. Disse que não, mas também não me soube explicar quem era. Mas tarde vim a saber que era a supervisora (acho que era este o nome técnico). A professora queixava-se que eles estavam especialmente mal comportados e, para mal dos meus pecados, a Nicole não era exceção.
Tinham de ler um pequeno texto de 6 linhas, cada um na sua vez. A minha peste teimava em não tomar atenção, em pintar e deixar, propositadamente, cai os lápis para o chão. Por várias vezes a chamei à atenção e lhe disse para estar sossegada. Nada. Metia lápis na boca, tentava ser engraçadinha e levantava-se da cadeira. Voltei a ralhar com ela e a dizer para estar quieta. A professora chama-a à atenção. Nada. Chega a hora do lanche, vai buscar o pão e o leite e sai da sala sem sequer me dirigir o olhar (pois já sabias o que te esperava não era?). Saio da sala, vou ter com ela e digo-lhe que precisamos de conversar (que é como quem diz: vais levar um ralhete):
"-Achas que te portaste bem na sala?
-Não...
- Não me ouviste a dizer para estares quieta e prestares atenção?
- Sim...
- Então porque é que não o fizeste?
(olha para o chão)
- Não ouviste a professora a ralhar contigo?
- Sim...
- Então porque é que continuaste a portar-te mal?
(volta a olhar para o chão)
- Vais voltar a portar-te assim?
- Não...
- Mesmo?
- Não...
- Espero bem que não!
(quase que começa a chorar)"
Achei que um raspanete era suficiente e decidi não a castigar mais pelo seu comportamento, uma vez que ela parecia ter percebido a mensagem. Quis ficar cá fora a brincar e cedi ao pedido. E depois de apanhadas com berlindes e alguns miminhos a pseudo Amigas Pequenas, a Nicole lembra-se que lhe apetece fazer um desenho. Disse-lhe que podiamos ir. Pede-me para levar uma amiga, mas a minha resposta é "não". Insiste, mas disse que como se havia portado mal não podia ir mais ninguém. Entra num conflito pessoal: quer fazer um desenho, mas não quer deixar as amigas. Nisto começa a choramingar porque diz que se for vai deixar de ter amigas (sua manhosa, chantagem emocional não resulta comigo). Agacho-me ao pé dela e explico-lhe que as outras meninas vão ser sempre amigas dela, não é por ir fazer um desenho que isso iria acontecer. Não fica muito convencida e continua com a lágrima no canto do olho.
"- Alguém te está a bater?
- Não...
- Morreu alguém?
- Não...
- Então porque é que estás a chorar? Hã, hã hã?"
Consigo roubar-lhe um sorriso mas fica chateada por eu levar a minha avante. Decide que, afinal, quer ficar a brincar cá fora. Mas, não haviam passado nem 5 min. e decide-se a fazer um desenho (aiii, dêem-me paciência!).
Estava a Miriam (amor-ódio da Nicole) com a Amiga Grande dela de castigo. Ela olha e comenta a situação. Digo-lhe que se ela se volta a portar mal lhe acontece o mesmo. Cala-se. Faz um desenho (ou pelo menos começa). Já tinha (supostamente) acabado, quando se lembra que quer escrever mais uma coisa (típico). Digo-lhe que não, que está na hora e que tem de arrumar as coisas para ir para a aula.
"- És má!
- Se te portasses bem já não tinha que ser assim."
Acho que nunca me tinha chateado tantas vezes numa só manhã com ela. Tanto a gabei que a estraguei. Experimenta repetir a dose para a semana que eu digo-te o que é que é bom para a tosse.
P.S.: Se alguma vez vos disseram que a vida de voluntário é fácil, mentiram-vos (com os dentes todos que tinham na boca)!
Lembrem-se:
Keep your heels, head and standards high,Vanessa S.