terça-feira, 9 de setembro de 2014

O que é a Praxe?

Há um ano atrás, fiz esta pergunta a mim mesma. Tal como muita gente que vai entrar para a faculdade, estava bastante curiosa relativamente a este tema. Sabia apenas o que via: pessoas todas pintadas pelas ruas, com penicos na cabeça e a cantar como se não houvesse amanhã. A única diferença desde há um ano para cá? Não havia tanta especulação e tanta falsa informação sobre o que é a praxe.

Quando me perguntaram se queria ser praxada, disse que sim. Queria passar pela experiência.
Nos meus primeiros dias de praxe andava um bocado perdida. Já "conhecia" uma pessoa na faculdade (que se viria a revelar uma grande amiga) mas, não percebia porque é que um número infinito de pessoas vestidas de pinguim com o traje académico me mandavam fazer tantas flexões (logo eu que não tenho força nenhuma de braços, e mal posso com uma gata pelo rabo) e berrar gritar como se estivesse num concerto do Justin Timberlake (ou, como eles gostam mais, dos One Direction). Sinceramente, na altura, não gostei muito destes primeiros dias de praxe. Nada daquilo fazia sentido para mim. Os trajados pareciam arrogantes, gritavam imenso connosco (e cada um deles era capaz de gritar mais que nós todos). Pareciam que tinham um iceberg de gelo no lugar do coração e simplesmente não ouviam nada do que dizia-mos (estava prestes a descobrir, da pior forma, que isto não era verdade). Achava que eles levavam esta situação demasiado a sério.

Numa manhã, estava eu a desempenhar uma atividade de praxe quando recebo a infeliz notícia de que tinha falecido um tio meu. Claro que fiquei devastada e desfiz-me em lágrimas. Mas, para minha surpresa, muitos daqueles trajados sem sentimentos vieram ter comigo a perguntar-me o que se passava e se precisava de alguma coisa. Uma trajada em especial destacou-se. Baixou-se ao pé de mim, perguntou-me o que se tinha passado, deu-me um abraço enorme e cobriu-me com a sua capa (algo que nunca me irei esquecer). Depois deu-me o seu número de telemóvel e disse-me que lhe podia ligar a qualquer hora do dia, para o que precisasse. Foi um ato que, para muitos, pode parecer simples e com pouco significado. Mas, naquele momento, para mim, foi tudo o que eu precisava (e assim apareceu uma das minhas madrinhas).
Quem diria que estes monstros insensíveis tinham tantos sentimentos...

Durante algum tempo deixei de ir à praxe. Precisava de tempo para me recompor e esclarecer tudo na minha cabeça. Não sou pessoa de fazer as coisas pela metade. Comigo é tudo ou nada. E, cheguei a uma altura em que tinha de decidir se queria continuar com a praxe ou não. Comecei a pensar e a lembrar-me de todas as atividades, todas as brincadeiras e todas as pessoas que tinha conhecido (acho que falei com mais pessoas naqueles dias do que no resto da minha vida!)... Ri-me. Realmente, olhando para trás, tinha-me divertido. Tinha ficado com os músculos das pernas e dos braços doridos, tinha aprendido 1 bilião de músicas, mas tinha-me divertido (é claro que gostei mais de umas atividades do que outras, mas é como tudo na vida). Então decidi voltar a dar outra oportunidade à praxe.

A pouco e pouco as coisas começavam a fazer sentido. Percebi que certos jogos/atividades pretendiam sempre transmitir algo. "Caloiro é união", uma das coisas mais importantes que aprendi. Dentro da praxe, se um enche, enchemos todos. No entanto, cá fora, convém que sejamos unidos. Assim conseguiremos ir mais longe. Dentro da praxe partilhamos sorrisos (por vezes grandes gargalhadas), experiências... Cá fora partilhamos apontamentos, sebentas, crises existenciais (não estivesse eu em Psicologia)...

A Praxe é uma tradição de há muitos anos. Uma tradição que deve ser honrada e respeitada. Todo aquele falatório que passa na comunicação social não corresponde à verdade (muitas vezes o que os media querem é ter audiências, e fazem-nos a todo o custo). Ou, pelo menos, não corresponde a uma grande maioria. Aliás, aquilo que geralmente costuma aparecer nas notícias, nem pode ser considerada Praxe. É uma mera estupidez de alguém que não sabe o que está a fazer. Alguém que não sabe (e, talvez numa tenha percebido) o que é a verdadeira Praxe.
Existe Praxe bem feita. Conheço muita gente que frequenta a Praxe das suas respetivas faculdades na zona de Lisboa e gostam imenso.

No início começamos todos um bocado a medo, sem saber bem o que fazer. Com o tempo vamos perdendo a vergonha, e é esse um dos objetivos. Que estejamos mais à vontade e com um espírito aberto em relação a isto. Se vão fazer figuras? Claro que vão! Mas quem nunca as fez? Especialmente se estiver rodeado de amigos? Quanto ao facto que andarem todos pintados e, às vezes, um bocado badalhocos, tenho-vos a dizer que faz parte. Não tem nada de mal, e isso sai tudo com água e sabão. O que realmente importa são as boas memórias e essas, não há banhos que as apaguem. Mais tarde vão olhar para trás (talvez para algumas fotos) e rir-se dos bons momentos que passaram (comigo foi assim).

Eu que, no início, sou sempre uma pessoa um pouco tímida, ajudou-me imenso a falar com várias pessoas. A grande parte das amizades que fiz no meu 1º ano de faculdade, começaram com a Praxe. Por isso, não me venham dizer que a Praxe não serve para integrar as pessoas na vida académica, porque foi, exatamente, isso que aconteceu comigo.
É claro que há pessoas que não gostam. E nada contra isso. Conheço algumas e não é por isso que não sou amiga delas. Não podemos gostar todos das mesmas coisas, não é verdade?
Ninguém vos obrigará a fazer nada que não queiram. Aliás, uma das primeiras coisas que me perguntaram era se tinha alguns problemas de saúde, para que tudo corresse pelo melhor e, no final, tudo isto culminasse num dia bem passado.

Posso dizer-vos que, o facto de ter integrado a Praxe, fez com que eu tivesse o melhor ano de caloira que poderia imaginar. Conheci pessoas, diverti-me imenso e, sobretudo, aprendi imenso sobre esta tradição que faço intenção de honrar, respeitar e ensina-la aos meus caloiros.
No final de tudo, acho que acabo por levar a Praxe tão ou mais a sério que algumas pessoas que me praxaram. Gosto imenso da Praxe. Aliás gosto tanto que acho que, por mais que escreva, não vos consigo transmitir exatamente aquilo que ela significa para mim. Acho que é uma tradição muito bonita e deve ser encarada com respeito.

Este ano não serei praxada. Este ano praxarei os meus caloiros. Mas, sou-vos sincera, já tenho saudades de ser praxada. Praxarei não para humilhar nem envergonhar ninguém (porque isso não é digno de nome de Praxe), mas para integrar, ensinar a tradição e divertir os meus caloiros. Trata-los-ei como gostei que me tivessem tratado a mim. Apesar de agora trajar, serei para sempre caloira.

Uma vez caloira, sempre caloira.
Dura Praxis, Sed Praxis
(A Praxe é dura, mas é Praxe)



Lembrem-se:
Keep your heels, head and standards high,
Vanessa S.

5 comentários:

  1. Bem , tenho a dizer que o texto que escreveste está muito bom. Fui praxada e não me arrependo de nada, conheci lá imenso pessoal , diverti-me , e andei sempre bem disposta em todas as atividades . Beijinhos

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  2. Gostei muito do texto. Na altura em que fui praxada adorei, foi uma semana fantástica, onde fiz amizades, aprendi as músicas da Faculdade,tudo foi bom e quando me lembro de tudo é apenas com muita saudade.

    P.S: O outro comentário está eliminado, porque me tinha enganado a escrever.Desculpa. :)

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  3. Que visualização perfeita da Praxe, gostei, muito bem

    Sónia
    www.tarasemanias.pt

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  4. Bem,finalmente vejo um texto que revela o que senti com a praxe.Eu adorei e eu era a caloira resmungona,ou seja o tipo de pessoa que não gosta muito de fazer o que nos mandam.Ainda assim adorei.Voltamos um pouco a ser crianças,ficamos sujos,esfregamo-nos no chão,jogamos,rimos e cantamos.Enfim.Não houve faltas de respeito,só lá estive porque quis e ainda bem queo fiz.

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