segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Diário de uma Voluntária de Saltos #11

"Então, como é que correu o último dia de voluntariado?"
Birra: nível master!


Quando lá cheguei estavam a fazer uma ficha de avaliação. A professora deixou que dessemos uma ajudinha. A Nicole estava a "tentar" fazer um exercício de correspondência de imagens às respetivas palavras (dado, pão, leite...). Sim, a "tentar" porque, no fundo, ela ligava as imagens à primeira palavra que lhe parecia ser a correta, sem se dar ao trabalho sequer de ler. Ela sabe as letras se eu lhe perguntar, junta-las já demora mais tempo e nunca o faz por iniciativa própria. Se não puxar por ela desiste muito facilmente.
Pela primeira vez fui confrontada com o pensamento da possibilidade de chumbar. Estamos a meio do ano letivo e ela ainda tenta adivinhar a palavra que está escrita em vez de a ler. Sente-se uma grande desigualdade naquela sala. Há alguns miúdos que sabem fazer as coisas bem mas, a maioria tem muitas dificuldades. São vinte e muitas crianças para apenas uma professora. É uma turma muito grande para conseguir dar resposta às necessidades de todas as crianças. É impossível dar a atenção devida a cada uma delas. Para ajudar à festa, estavam lá alguns alunos do 4° ano, pois a professora havia faltado. Que orgulho neste Ministério da Educação.
Chega a hora do intervalo e começam as dores de cabeça. Estava imenso frio mas, sendo a Nicole uma teimosa de último grau, insistia em não querer vestir o casaco apesar de estar a tremer de frio (raça da miúda!). Depois de algumas vezes a dizer que se não vestisse o casaco não iamos brincar, lá o colocou sobre os ombros e fomos para o ginásio. Pouco tempo depois pediu-me para irmos para o recreio. Disse -lhe que para irmos lá para fora tinha de vestir o casaco. E assim começou a birra.
"- Não quero. Não quero.
- Não queres o quê?
- Não quero vestir o casaco!
- Ok, então ficamos aqui dentro.
- Não! Quero ir lá para fora!
- Então se queres ir lá para fora tens de vestir o casaco porque está muito frio.
- Não! Não! Não quero!"
Andou lá de um lado para o outro com cara de quem todos lhe devem e ninguém lhe paga, enquanto a Miriam andava de patins qual profissional experiente e lhe dizia que me esta a tratar mal e que se continuasse assim eu nao vinha mais. No fundo, a atiçar mais o fogo (obrigada...). Depois de se esconder atrás dos colchões de ginástica, de muito resmungar e se arrastar de um canto para o outro, foi buscar um arco. Estava com ele na mão, a roda-lo muito distraida quando acerta com ele em cheio na cabeça. Desmanchei-me a rir, não consegui conter-me. E ela também não porque fez exatamente o mesmo. Veio para mais perto de mim e, por momentos, pensei que a birra tivesse passado. Enganei-me. Passado um pouco começam as duas a discutir e volta a lembrar-se que estava amuada. Começa a testar-me. Vai para ao pé da porta. Vou também.
"- Não mandas em mim. Não me podes obrigar. Não quero vestir o casaco. Quando fores embora vou tira-lo.
- Eu não quero saber. Quando eu me for embora tu fazes o que quiseres, enquanto eu estiver aqui fazes o que eu disser."
Sem exageros esta resmungisse deve ter demorado uns 15 minutos. E nem sei como me mantive tão calma. Depois começamos uma dança. Ela saia de perto da porta depois esperava que eu não estivesse a olhar e avançava em direção da mesma. Eu olhava para ela com uma expressão séria.
"- Oh pá deixa-me!
- Não te estou a agarrar."
A dança repetiu-se pelo menos mais uma vez. Até que, por fim, veste o casaco e vai para junto da porta (novamente).
"- Quando chegar lá fora vou tirar o casaco."
Consegui manter-me assertiva e firme. Olhei-a nos olhos e disse-lhe que se livrasse de tirar o casaco lá fora. "Oh pá!" Tira o casaco e foge para o outro canto do ginásio.
Como não podia faltar, ou não era dia para nenhuma de nós, Nicole e Miriam entram em discussão. Já não sei bem como surgiu só de lembro de:
"- Vá anda cá bater anda!" ou "- Vou dizer ao meu namorado para te bater."
Aqui chateei-me mesmo. Disse-lhe que se estava a portar mal, que não estava a gostar destas birras e ameacei mesmo não voltar se ela se continuasse a portar assim. Acalmou um poouco.
Digo-lhe que está na hora de ir embora e que tem de arrumar o que desarrumou.
"- Então anda cá ajudar!
- Não é anda cá ajudar. É ajuda-me sff. E, se conseguiste desarrimar isso sozinha também consegues arrumar.
- Para a semana quero fazer um desenho. E não acabamos de ler a história!
- Está bem. E não lemos porque não quiseste."
Finalmente veste o casaco e saimos. Mesmo amuada quis dar-me um beijinho de despedida.
Não foi um dia fácil. Mas se ela é teimosa eu sou mais. E não desisto!
Desafia-me que eu estou cá para isso. Ainda vais perceber que o osso duro de roer não és tu. Sou eu.

Lembrem-se:
Keep, your heels, head and standards high
Vanessa S.

3 comentários:

  1. Isso é que é determinação!!! Nada de desistir...porque desistir é para os fracos e tu és bem Forte!!! Ela esta a testar o teu limite, não te dês por derrotada!!! Beijocas
    Graziela

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  2. Gostei muito do teu blog :)
    Apesar de tudo, das birras e chatices, aposto que no final o coração fica cheio de felicidade!

    Um beijinho,
    http://thedailydreamergirl.blogspot.pt/

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    1. Sim, às vezes pode ser um pouco frustrante mas, no fundo saio sempre de lá com o coração bem quentinho! ^.^

      Beijinhos,
      Vanessa S.

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