quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Diário de uma Voluntária de Saltos #7

Hoje podia ser mais um dia em que passo a manhã a stressar e a tentar arrancar os cabelos nesta maldita época de exames, mas não. Hoje é dia de ir ter com a minha Amiga Pequena.
Sinceramente precisava de sair de casa para fazer algo que me permitisse esquecer que nem sei 1/3 do que é suposto e o exame é já na sexta (sim, dramática é o meu nome do meio).
Chego à escola, entro na sala, o abraço e o beijinho do costume e bora lá ajudar nos trabalhos. Por entre a grande preguiça dificuldade em escrever pote e apito, conta-me que a mãe havia sido operada a um braço e que voltava hoje para casa. Finalmente começa a contar-me espontaneamente coisas, especialmente sobre a família (que era o tabu inicial). Acabados os trabalhos vem o lanche. Hoje decidiu que era muito mais giro beber o leite diretamente do pacote, sem a palhinha. Pensei que a bela ideia fosse dar mau resultado mas vá lá, não houve danos de maior. Enquanto isto, pergunta-me como tinha sido o meu Natal (já não se devia lembrar que lhe tinha perguntado o mesmo na semana passada). Disse-lhe que tinha corrido bem. Entretanto aparece a amiguinha Miriam que hoje não tinha recebido a visita da Amiga Grande. Entra na conversa e começa a dizer que recebeu tudo (e mais um par de botas) da Violeta: um tablet, uma mesa, uma camisola, um computador... Coincidência das coincidências: a Nicole também recebeu isso tudo (humm...humm...claro...). Estavamos no corte e costura, a por as novidades em dia, quando chegam à conclusão de que sou parecida com a Violeta: "O cabelo é igual e até as unhas!". Digo-lhes que somos parecidas porque somos primas (apesar de nem saber bem quem é). Não ficaram muito convencidas.
Saímos da sala para o intervalo. A Nicole (como sempre) queria ir para o ginásio. Vou buscar a sala e apercebo-me que a "miss popular" tinha prometido a meia escola que podiam vir connosco para o ginásio. MEDO! Entramos em processo de negociação. Digo-lhe que pode levar 5 amigos e nem mais um porque senão depois levávamos nas orelhas! CAOS! Meto a chave na porta e, por momentos, senti-me como num dia de exame no anfiteatro (que é equivalente ao 1º dia de saldos). Alguns entram para o ginásio. Ok, chega de ser boazinha e compreensiva: "Todos fora do ginásio já! Entram 5 pessoas hoje, para a semana entram os, outros.". E por entre pedidos de misericórdia e algumas lágrimas, lá consegui fechar a porta do ginásio. Em menos de instantes já havia patins, arcos, cordas e bolas por todo o lado. Até estava tudo a correr bem, mas eles não conseguem não fazer barulho. Entra um auxiliar e corre tudo para a rua menos a mim e a Nicole e aí vem o momento "Eu bem te avisei".
Após tudo estar evacuado, propus que fizessemos um concurso para ver quem conseguia saltar à corda durante mais tempo. Ganhei a 1ª vez e deixei-a ganhar as outras. Coitada, até já respirava fundo. Depois decide montar todo um posto de ginástica: 2  colchões, meia dúzia de arcos e uma bola de basquetebol. Umas corridas, cambalhotas, dribles e fartou-se.


"-Vamos brincar às mãe e aos filhos" e deita-se no colchão. Deitei-me também.
(eu)"-É para dormir?"
(ela) "-Sim."
(eu) "-Então mas tens de fechar os olhos para dormir."
Risse, fecha os olhos e finge ressonar.
(eu) "-Estás a ressonar?! Assim não consigo dormir!"
Estavamos no mesmo colchão e tinha o meu braço por cima dela. Ri-se e manda-me ir para a minha cama (o outro colchão). Nisto levanta-se e acabou-se a mãe e a filha, vamos é é jogar à bola. Também não durou muito tempo. Pega nos arcos e começa a tentar fazer malabarismos, qual artista do Circo Victor Hugo Cardinali . Tenta rodá-lo na cintura. Faço o mesmo (muito mau resultado). Depois tenta rodar 2 arcos num braço. Não vos consigo explicar a expressão estampada no seu rosto ao fazer isto, mas era para além de hilariante. Ela sabia que havia a probabilidade de levar com os arcos na cara, por isso afasta ligeiramente a cabeça para trás, fecha os olhos franzindo a testa. Ri-me muito. Depois tenta trocar o arco de um braço para o outro enquanto estes rodavam (a expressão hilariante mantém-se). Não o consegue fazer, pede-me para ficar calada (deduzo que para se concentrar) e pede-me para que me sente e veja. Nisto ela começa a rodar o arco com um braço, fecha completamente os olhos e, enquanto ela levanta o outro braço para passar para aí o arco, o arco salta-lhe e sai disparado para o outro lado da sala. Resultado: ela fica com os olhos fechados a rodar o braço sem nada. Ainda me rio agora só de me relembrar desta imagem.


Chega a hora de arrumar. Demorou uns segundos a assimilar, mas até foi pacífico. Depois de tudo arrumado agarra-se à minha cintura: "-Amiga Grande, quando é que não tens aulas à tarde?". Pronto, já sei o que vem daí. Disse-lhe que tinha sempre aulas à tarde. "Podias pedir à tua professora para trocar de horário e vir à tarde, é que assim ficavas mais tempo." Expliquei-lhe que, independentemente de vir de manhã ou à tarde o tempo era sempre o mesmo e, depois de alguns segundos a tentar convencer-me a ficar mais tempo para a próxima saímos do ginásio.
Já tinham entrado para a sala, mas a Miriam ainda andava por ali a passarinhar. Agacho-me para dar um abraço e um beijo à minha peste preferida, e  ela aproveita para me confidenciar que a Miriam a tinha empurrado. Que queria que para a próxima ela ficasse connosco mas que depois ela a tratava "mal". Nisto a Miriam chega e ouve o que ela disse. Elas têm uma relação amor/ódio. Não conseguem viver uma com a outra nem uma sem a outra.
Olhei muito séria para elas e disse:
"-Quero que me prometam uma coisa." Estavam as duas muito atentas e sérias a olhar para mim, perceberam que estava a falar a sério.
"-Não quero que se chateiem mais. Quero que sejam amigas e se portem bem as duas. Para a semana eu e a Amiga Grande da Miriam voltamos e vou saber se cumpriram."
Aceitaram e a promessa ficou selada com, cada uma do meu lado, a dar-me um beijo. Lindas! Dei um beijo e um abraço às duas e levei-as à sala.



Foi o melhor momento desta semana caótica. E, apesar de, no fundo, eu saber que ela tem razão em relação a eu estar lá pouco tempo é a melhor uma hora que podia querer e noto que também faz a diferença para ela. Saber que ela começa a contar-me coisas sem eu ter de perguntar, que começa a confiar em mim é sinal de que estou a ganhar a confiança dela e isso deixa-me muito feliz. Tem uma maneira muito própria de demonstrar que gosta de mim, mas é um gostar puro e não podia querer mais.
Que venham mais manhãs como a de hoje.


Lembrem-se:
Keep your heels, head and standards high,
Vanessa S.

1 comentário:

  1. Fico sempre cheia de vontade de fazer voluntariado quando leio as tuas palavras :D

    Beijinhos*

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